Superação, sorte, estrelinha de campeão, chame-se o que quiser. Há dias em que os deuses do futebol parecem querer pender a balança para o lado menos forte. Às custas da melhor equipa, o desporto-rei torna-se completamente imprevisível e todas as apostas mais ou menos racionais caem por terra, sem que se encontre, muitas vezes, uma explicação lógica para alguns resultados finais.
Em 2012, num palco mítico como Camp Nou, assistiu-se a um dos maiores golpes de teatro dos últimos tempos no futebol internacional. O Chelsea de Di Matteo, que não convencia nem o adepto mais otimista, passou todas as tormentas possíveis para, de forma absolutamente surpreendente, eliminar o último grande Barça de Guardiola e seguir para a final da Champions. E com o mal-amado Torres a decidir mesmo no final!
E, por fim, a Orelhuda
Projeto que marcou toda a primeira década do século 21, o Chelsea chegava a 2011 ainda à procura da glória europeia. Foram vários os títulos ingleses, as Taças, mas faltava sempre alguma coisa na alta roda do futebol europeu. Uma final perdida, em 2008, às custas do Manchester United de Cristiano Ronaldo, várias presenças nas meias finais, uma malapata chamada Liverpool. Nem Mourinho, nem Ancelotti, nem Hiddink conseguiram levar à glória nomes como Cech, Terry, Lampard, Cole ou Drogba. Lendas que começavam a correr contra o tempo em Stamford Bridge e que começavam a sentir o sonho de conquistar a Orelhuda a fugir-lhes pelas mãos.
André Villas-Boas abandonou a cadeira de sonho ao fim de um ano no FC Porto e aceitou o convite de Abramovich, magnata russo que acreditava que o antigo adjunto de Mourinho podia replicar em Londres os sucessos e as vitórias do Special One . O rendimento foi quase sempre demasiado irregular e a solução encontrada acabou por passar pela saída do português, entrando para o seu lugar um pouco experiente e até então membro da equipa técnica Roberto Di Matteo. Se as dúvidas com o campeão nacional já era muitas...
Representante de uma altura em que o clube não era propriamente um crónico candidato ao título em Inglaterra, o técnico italiano mostrou desde muito cedo ao que vinha. A nota artística não era encarada como prioridade, o resultadismo falava sempre mais alto. Assim se ganhou uma Taça, assim se foi passando as barreiras da Liga dos Campeões. Um Benfica de muita alma e de muitas contrariedades foi uma das equipas a sentir na pele o cinismo e a aura vitoriosa da versão mais pragmática dos blues.
Faltava o Barça, na série surpreendente e interminável do Chelsea menos espetacular da era-Abramovich. E esta era uma eliminatória marcante. Pela aparente diferença de qualidade entre as duas formações e, acima de tudo, por aquilo que tinha acontecido três anos antes, na mesma fase da prova milionária. A arbitragem de Ovebro, que retirou, pelo menos, três grandes penalidades aos blues e a passagem quase certa à final, ainda ecoava na memória de todos e sentia-se, apesar do favoritismo teórico dos catalães, que esta seria a melhor oportunidade para consumar uma vingança há muito prometida e para lançar um grito de revolta que estava adormecido há tempo demais.
A primeira mão, em Londres, no local de toda a polémica, no local onde Iniesta entrou definitivamente para a eternidade do Barcelona, acabou por confirmar algumas das projeções. Chelsea de muito trabalho, de muito sacrifício, de muita entreajuda, dominado por um Barça já não tão fulgurante e espetacular mas na mesma fortíssimo e capaz de desequilibrar uma organização defensiva tão densa e compacta como aquela construída por Di Matteo. No fim, Drogba abriu uma janela de esperança, mas que se pressentia que podia muito bem ser curta (1x0).
O jogo de Camp Nou foi um verdadeiro compêndio. Uma equipa a atacar muito e bem; um adversário a defender muito e quase sempre bem. Um autêntico choque de estilos que passou a ser ainda mais evidente quando John Terry recebeu ordem de expulsão. Ainda se procurava uma reorganização quando Iniesta e Busquets abriam o caminho para a terceira final em quatro anos de Guardiola. Encarar uma equipa tão forte como o Barça com menos um seria o derradeiro desafio para Di Matteo. Como é que um conjunto tão predisposto a defender seria capaz de marcar um golo em inferioridade e atingir a tão desejada final de Munique?
2-2 | ||
Sergio Busquets 35' Andrés Iniesta 44' | Ramires 45' Fernando Torres 90' |