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      A Tasca do Silva
      Paulo Silva

      Crónicas da Linha

      2024/04/02
      E6
      A Tasca do Silva é o espaço de opinião sobre e à volta do FCP, dinamizado por Paulo Silva, um dos podcasters responsáveis por A Culpa é do Cavani, o podcast de referência do universo portista.

      1. Estoril

      O Porto perdeu. A quantidade de vezes que já escrevi isto esta época está plasmada na tabela classificativa e na espécie de resignação que vamos ganhando. Como se fôssemos ficando calejados no melão. Não estamos nada habituados e, por isso, custa mais.

      Mas, hélas, perdeu mesmo, apesar de ter jogado decentemente durante boa parte da partida. Sem qualquer surpresa, no estilo que melhorou bastante a qualidade que a equipa apresenta, sem, ainda assim, ser estelar.

      Até que o conjunto de árbitros liderado por António Nobre cometeu um erro. Um daqueles grandalhões, a deixarem a gente a pensar como é que é possível isto acontecer se esta malta está a olhar para as mesmas imagens do que eu? Só que, lá está, depende um pedacinho das lentes. No tempo que decorreu entre sábado e agora, já li e ouvi de tudo, incluindo que foi o Chico que fez falta. É assustador e também é falso. Podem elaborar como quiserem sobre trajetórias, pernas, joelhos e ancas. Foi a mão no focinho, não há nada a fazer, foi gamado. Ponto.

      Que este (des)acontecimento, aos 60 minutos de um jogo com o Estoril, tenha o condão de afundar uma equipa do FCP é que é muito preocupante. Porque, senhores, se estamos a ganhar calo no melão, nisto do erro casual de arbitragem somos mestrados! Portanto, dividimos com os Nobres desta vida a responsabilidade da triste sina de perder 3 em 4 jogos com o Estoril. O do Seabra, o que luta pela permanência, esse. Parabéns a eles, shame on us.

      Destaco dois lances que, na minha opinião, refletem os motivos pelos quais fomos, e temos sido demasiadas vezes, incapazes:

      A) Jogo a chegar ao fim, desespero, Evanilson escapa na área e assiste ali para a entrada da pequena-área. A bola vai certinha para a chuteira de Danny Namaso e eu já me começo a levantar. Naquele metro quadrado, cuja densidade populacional superava uma carruagem da CP no Cais de Sodré, em hora de ponta, o bom do Danny decide dominar a bola, levantá-la sobre um defesa, ficar - fucking obviamente! - sem ela. Como assim não lhe mandou um bico? Ainda que corresse mal e a bola acabasse em Alcabideche. 

      Esta aversão ao remate, ao risco, este passa para o lado no momento da verdade, espelha o estado mental de uma equipa sobre brasas. Daquelas que implodem à primeira contrariedade, caso encerrado.

      B) Chico Conceição é expulso e vai bater palmas ao árbitro. Nada de especial aqui, é uma cena que peca pela falta de originalidade, mas não viria daí grande mal ao mundo. Batia as palminhas irónicas, punha-se a andar na mesma, já tinha prejudicado a equipa, siga. Só que também lá estava Pepe, o capitão, juntando-se, ou até iniciando, a ovação. Naquele momento do jogo, no estado já caótico da equipa, Pepe podia protestar com o árbitro e com o Universo, mas tinha de ser capaz de canalizar a frustração de todos para um só objetivo: ganhar! Não foi, não é, estende no relvado o banco e, nestes aspetos, isso não traz nada de bom.

      Já Chico, o próprio, é um dos maiores talentos da sua geração. Aliás, para mim, é mesmo o maior. O que pode valer ao FCP, antes de mais desportivamente, deveria ser suficiente para se ter um cuidado particular com ele. 

      Chico tem de acelerar o seu processo de amadurecimento, sob pena de nunca atingir o nível que promete. Desde logo, tem de aprender que ficar sem a bola não é, por si, falta do adversário. Saber ser adulto para não ficar no chão a fingir que foi paulada em vez de admitir que lhe correu mal e fez merda. Não - NÃO! - falar sempre - SEMPRE! - para os árbitros como um puto mal-educado que precisa de atenção e dois tabefes naquelas trombas. Olha, como o que levou do Mangala. Dentro da área. Do Estoril. Tájabêr ou não, Nobre?

      2. Cruz Quebrada

      Depois de, ainda ontem, já o presidente - ou seria o candidato? - ter começado a apresentar contas à Liga Europa, parece claro que resta ao FCP ganhar a Taça de Portugal. A tarefa afigura-se complicada, mas, nas palavras de Fernando Ribeiro, the future is dark but it’s all that we’ve got.

      O único título que poderemos conquistar esta época tem, desde logo, um Jota pela frente. Devemos demonstrar-lhe cabalmente porque é que é de azul e branco que ele deve jogar.

      É pois preciso apanhar muito rapidamente os cacos do Estoril, colar, mesmo que à pressa, os vidros e seguir em frente, focados nessa final da Cruz Quebrada, onde teremos a possibilidade de vingar, de forma muitíssimo ligeira, o facto de não estarmos no nosso lugar. 

      3. Cascais, estação terminal

      Ainda assim, mantenho sempre a esperança de que algum cataclismo cósmico torne o Porto campeão. Bem sei que a métrica é tramada, mas, de momento, só nos resta cantar: “cataclismo cósmico, meu irmão, faz o Porto campeão”. Porque o Conceição é que não será. 

      Tudo nesta temporada, dos resultados à tardia “descoberta” de que, afinal, havia ali um esboço de equipa, grita fim de ciclo. Creio que mesmo o candidato Jorge Nuno tem claro que SC não continuará. Fechando o seu longuíssimo e inédito reinado com a pior época de todas. É, por norma, assim, não há nisto qualquer drama. 

      Quando Sérgio chegou, defendi que era uma escolha fraquinha. Por muitos motivos, mais os relativos à forma como vê o futebol e, ainda mais, a maneira como se vê a si próprio. Quando Sérgio renovou, aplaudi de pé, praticamente agradecido, porque ele se me afigurava a única réstia do espírito do Dragão, no meio de um circo prestes a pegar fogo. As minhas diferenças futebolísticas continuavam lá, embora fossem atenuadas com o advento Vitinha. As outras permanecem até agora. Hoje, vejo um homem desgastado, com poucas soluções e consciente de que o seu discurso já não produz o mesmo efeito, quer interna, quer externamente.

      Sérgio ganhou 10 títulos em 7 anos. Ou ganhou 3 campeonatos em 7. Uns dizem de uma maneira, outros de outra. Seja como for, qualquer dos registos, numa realidade normal, não é nada mau. Também não é propriamente motivo para um grande clube escrever para casa a contar. O que Conceição trouxe foi aquele morder de língua com que João Pinto e Jorge Costa faziam 90 minutos. Devolveu alguma mística a um clube que ameaçava esquecer-se completamente dela. Esse é o verdadeiro marco que deixa na história. 

      Não casualmente, isso é o perfeito inverso da equipa que, hoje, parece atirar-se ao chão a espernear à primeira contrariedade. Qual Chico quando lhe tiram a bola.

      Até breve.

      PS. Se saírem em Carcavelos, a banhos, e derem lá com um tipo montado num pedaço de esferovite no meio das ondas, façam cuidado que o gajo é lagarto. De todo o modo, entreguem-lhe lá um grande abraço e obriguem-no a pagar-vos um fino.

      Outros disparates sobre bola, a vida e copos de 3 em http://atascadosilva.blogspot.com



      Comentários

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      motivo:
      LP
      EspecialistaDaB ola
      2024-04-03 11h57m por lpfcp
      Apesar da sensatez do comentário, a arbitragem continua a ser uma parte importante do jogo. A relevância de cada parágrafo do texto é obviamente subjetiva, de acordo com as preferências de cada leitor, e nunca será de descartar a hipótese de estes estarem interessados ou até envolvidos no campo da arbitragem, tendo portanto muito maior interesse nessas questões do que propriamente na vida interna de um clube.

      Por outro lado, é também claro que a maioria dos adeptos não está...ler comentário completo »
      Interessantes comentários
      2024-04-03 01h17m por EspecialistaDaBola
      Mais do que o texto, aprecio os comentários. 4 comentários antes do meu, todos focados na arbitragem, quando neste texto, tudo o que é importante não é sobre arbitragem.

      Mas, e por incrível que possa parecer pelos comentário a este texto, a malta que comenta no zerozero está a milhas, em inteligência e educação, à frente do que se lê nos outros "meios" desportivos, padecem, no entanto, do defeito do adepto português médio: basta meter a palavra árbitro, ou um seu d...ler comentário completo »
      TI
      TASCA
      2024-04-02 12h40m por ti_maria_69
      É mesmo crónica de tasqueiro. E outra coisa não seria de esperar. . .
      LP
      Para complementar
      2024-04-02 10h36m por lpfcp
      O grande problema destas críticas à arbitragem é que estamos a escolher pessimamente as nossas batalhas. Estamos a focar-nos num jogo (em que até ficou por dar pelo menos vermelho direto a um jogador nosso) só porque perdemos em vez de apontarmos para as decisões absurdas nos jogos do Benfica, com o penalti do Di Maria, no dia anterior, à cabeça.
      LP
      Mais uma vez a arbitragem. . .
      2024-04-02 10h28m por lpfcp
      Não, não há falta do Conceição sobre o Mangala no lance do "penalti", ninguém sério defende isso. E também não há falta nenhuma do Mangala sobre o Conceição. Há obviamente um contacto com a mão, mas não há nenhum movimento a empurrar ou que possa ter causado a queda de um jogador que passa metade do jogo no chão e a outra metade a reclamar com o árbitro. . . O único grande erro do Nobre foi não ter tido personalidade para não expulsar esse mesmo jogador quando lhe berrou 3x filho da **** na cara, para todo o país ouvir.

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