A grande história dos quartos de final da Liga dos Campeões teve o seu apogeu na Allianz Arena, em Munique, mas começou a ser contada numa pequena cidade da Comunidade Valenciana de Espanha. Em Villarreal vivem cerca de 50 mil pessoas, que não seriam capazes de encher as bancadas do palco onde viveram um sonho. O clube chocou o mundo ao deixar pelo caminho um dos grandes favoritos à vitória na prova.
«Vivem num sonho, mas sabem que isso não foi fruto do acaso. É fruto de um projeto bem gerido que, há alguns anos, aspira a competir com os melhores. Obviamente, poucas pessoas esperavam que o Villarreal passasse, mas confiaram em Unai [Emery] e nos jogadores e agora vivem em um sonho. O facto de a cidade ser tão pequena gera um sentimento entre o clube e os adeptos que raramente é visto no futebol moderno», explicou Nacho Sanchis, jornalista do Diario AS, em conversa com o zerozero.
O sabor do sucesso não é inédito e até num passado algo recente o Submarino Amarelo alcançou esta mesma fase da prova milionária. Na altura caíram perante um Arsenal que viria a ser derrotado pelo Barcelona na final. Riquelme falhou uma grande penalidade aos 89 minutos, no El Madrigal, antiga designação do Estadio de la Cerámica, que daria o empate na eliminatória. O sonho ficou por aí. Manuel Pellegrini era o homem do comando e o responsável por alcançar as melhores classificações na La Liga durante essa passagem pelo clube.
«Por muitos anos, os adeptos tiveram aquele jogo da meia final como a referência mais importante, mas sinceramente acredito que isto já a superou. Destacar-se no futebol de hoje é muito mais complicado do que naqueles anos, em que tudo era mais equilibrado, e eliminar um Bayern a este nível é algo muito difícil de ultrapassar», opinou Mario González.
O presente tem outra cor, outro encanto: «O clube vive o melhor momento de sua história.»
«É verdade que há alguns anos eles também chegaram às meias finais da Liga dos Campeões, mas este ano conseguiram depois de vencer a Liga Europa e conquistar seu primeiro título em toda a sua história, para além de eliminar o grande favorito Bayern de Munique», expressou o jornalista.
Antes disso também a Juventus ficou pelo caminho depois de uma vitória categórica em Turim por 0-3. Impossível ficar indiferente.
O senhor Liga Europa deu um passo em frente. Com maior exigência, mas a mesma competência, Unai Emery colocou a sua equipa a fazer o que sabe melhor: ultrapassar eliminatórias.
Nacho Sanchis vai mais longe: «Unai Emery atingiu um ponto de maturidade ideal e já está no nível dos melhores treinadores da Europa. O Villarreal não ganhou por um ressalto, por uma ação isolada, aconteceu porque Emery venceu o jogo contra Nagelsmann, tanto na primeira mão como na segunda. Lewandowski marcou, mas só apareceu no golo, o resto do tempo estava algemado. Emery, que aprendeu com as reviravoltas contra outros clubes, está no top-5 dos treinadores.»
Unai Emery Villarreal Total |
«Diria que esta façanha se deve a 50% de Fernando Roig, 30% de Unai Emery e 20% dos jogadores», apontou o jornalista.
Mario González não repartiu percentagens: «A figura do presidente ali é inquestionável porque ele mereceu. Tudo o que faz ou deixa de fazer é apoiado pelos adeptos porque têm absoluta confiança nele.»
Se já chegaram até aqui, porque não sonhar com o título? Uma pergunta que qualquer adepto do Villarreal coloca neste momento. Pela frente estará um Liverpool que impõe respeito, tal com o Bayern...
«Claro que a autoestima e confiança aumentam e há grandes expectativas de chegar à final, mas logicamente não são favoritos para a eliminatória, tendo em conta que jogam contra o Liverpool. Não sei o que vai acontecer, mas tenho certeza que o Villarreal vai lutar até o final. Acho que é vantajoso não ser favorito, porque o clube sente-se muito confortável quando desempenha um papel secundário e joga bem com as suas artimanhas. Espero que nos deem uma grande alegria como no outro dia», atirou o avançado.
Antes disso há uma La Liga por disputar, onde o sétimo lugar não espelha a qualidade da equipa no geral. Na visão do jornalista, que acompanha de perto o clube, a razão é fácil de explicar: «O Villarreal tem um grande plantel, mas ao contrário de Real Madrid, Barcelona ou Atlético de Madrid, quando os jogadores menos habituais têm de jogar, a equipa ressente. Acusou o cansaço físico de dar tudo na Liga dos Campeões e apesar dos jogadores "substitutos" terem muita qualidade, é normal que o desempenho caia.»
Por agora basta continuar a sonhar.
1-1 | ||
Robert Lewandowski 52' | Samuel Chukwueze 88' |