*com Cristiano Tavares Faria
Cenário trágico para o Marítimo e mágico para o Estrela da Amadora. Depois de muita indefinição, emoção e nervos à flor da pele, o conjunto tricolor está de regresso à elite do futebol português, superiorizar-se nas grandes penalidades ao Gigante madeirense, depois do 2-1 favorável aos insulares no final dos 120'. Contas feitas, o Estrela está de volta à I Liga, 14 anos depois, enquanto o Marítimo volta a afundar à II Liga, ao fim de 38 anos...
Com uma entrada agressiva e a querer jogar no meio-campo maritimista, fruto das ações de Sebastián Guzmán e Vitó, o Estrela da Amadora apenas surpreendeu quem não acompanhou o duelo da primeira mão. Por essa altura, a asfixia era real e ameaçava ser efetiva para a equipa de José Gomes, apenas capaz de sacudir a pressão na primeira saída para o ataque, aos oito minutos.
O momento fez o Caldeirão borbulhar pela primeira vez, depois da apreensão dos instantes iniciais e soltou o Marítimo para o melhor período da etapa. Por essa altura, Félix Correia - que jogatana do extremo emprestado pela Juventus - ficou a centímetros de conferir vantagem aos insulares, após grande trabalho individual de André Vidigal.
Era o primeiro sintoma de um cozinhado assente em princípios de jogo verticais, sustentados nos passes concisos de Val Soares - excelente complemento ao processo de criação verde-rubros- e Xadas, bem como pelas largas cavalgadas de Vítor Costa e André Vidigal.
O golo pressentia-se pelo estado de espírito dos quase dez mil adeptos que marcaram presença no anfiteatro madeirense e Bruno Xadas não tardou em confirmar a expetativa. Após entendimento de primeira com Geny Catamo, o médio canhoto aplicou uma colherada perfeita de meia distância e em curva, que só parou nas redes à guarda de Bruno Brígido.
O desnorte começava a engolir a formação da Amadora, mas, em apenas dois minutos, Miguel Lopes viria a tirar a chance de Vidigal dobrar a vantagem insular com um corte providencial, concretizando a igualdade numa bom remate, a capitalizar uma segunda bola que Régis já tinha atirado ao poste.
Até ao descanso, André Vidigal ainda viria a fazer o gosto ao pé, na emenda a um cruzamento de Félix Correia, só que, por oito centímetros, João Pinheiro anulou a festa aos Leões do Almirante Reis.
No reatar, o Estrela da Amadora regressou mais seguro e próximo da baliza de um intranquilo Marcelo Carné - as bolas paradas foram o grande foco da instabilidade do guardião brasileiro -, o que obrigou o conjunto madeirense readaptar-se ao momento.
Ultrapassados os calafrios defensivos, Geny Catamo fez estremecer o poste da baliza tricolor, num momento que podia muito bem ter sido o ponto de viragem na partida. Não o foi e a verdade é que as mexidas promovidas por José Gomes - fez entrar Riascos e Cláudio Winck - tardaram a surtir efeito.
Num assomo propiciado pelo apertar do cronómetro, o Marítimo entrou em modo primal survivor e acabou por igualar o playoff, fruto do golpe de cabeça de Chucho Ramírez, na resposta ao cruzamento pingado de Winck.
Na meia hora extra, a partida despiu-se de grandes lógicas e passou a jogar-se de forma mais rasgadinha, ainda que o Marítimo se tenha apresentado mais disposto a correr riscos. Chuchu Ramírez, novamente de cabeça, viu Brígido negar-lhe o golo com uma palmada importantíssima e Mansur deu a resposta mais esclarecida de um Estrela mais interessado em resguardar o resultado e a sair pela certa.
Ninguém cedeu, o desafio foi para grandes penalidades e aí frieza de Jean Felipe, Mansur e Vitó superiorizou-se à displicência das cobranças levadas a cabo por Diogo Mendes, Chucho Ramírez e Félix Correia.
Não só neste segundo jogo, como no da primeira mão, ficou reforçado o cariz decisivo e carregado de emoções à flor da pele que o momento acarreta. Apesar de uma quebra física natural de ambas as equipas com o avançar do relógio, ninguém se poderá queixar de falta de espetáculo.
Sem colocar em causa o esforço aplicado pelos jogadores do Marítimo para reverter a desvantagem trazida da Reboleira, pedia-se outro tipo de sangue frio na hora de converter o desempate por castigos máximos. Três penáltis falhados num momento tão importante paga-se e de que maneira...
Jogo competente do juiz da AF Braga que, ainda assim, preferiu um critério mais rígido e que penalizou de forma embrionária Val Soares. Sem erros de decisão graves, João Pinheiro optou pela segurança de apitar pela certa à mínima suspeita de infração, algo que fez os jogadores das duas equipas perder a paciência em alguns momentos.