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      Entrevista do zerozero ao treinador do CD Póvoa

      José Ricardo e o CD Póvoa: «Não sei se seremos a equipa sensação, mas somos uma equipa diferente»

      Nasceu na Póvoa de Varzim e tem uma ligação de mais de 20 anos ao CD Póvoa. Há quatro anos decidiu regressar ao clube que tão bem conhece e desde aí tem revolucionado a equipa de basquetebol masculino. 

      Começou pela equipa de sub-18 para cumprir o sonho de treinar os filhos e rapidamente regressou à equipa sénior, alcançando a conquista da Proliga (em 2020/21) e, consequente, subida histórica ao principal escalão do basquetebol nacional. Na primeira época do clube entre a elite do basquetebol português, José Ricardo não só conseguiu a manutenção, como comandou o Desportivo da Póvoa à qualificação para os play-offs do campeonato.

      Em conversa com o zerozero, o experiente treinador português falou sobre a sua paixão ao CD Póvoa, o rótulo de «equipa sensação» da Liga Betclic, a luta com a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) relativamente ao número máximo de estrangeiros que as equipas podem ter e muito mais!

      José Ricardo prolongou história com o CD Póvoa ©FPB

      Zerozero: São muito e largos anos de ligação ao CD Póvoa e, recentemente, renovou novamente contrato. É esta uma história de amor e sucesso entre os dois?

      José Ricardo: A minha ligação ao CD Póvoa vem desde 1980. Foram 26 anos, até ao momento, no total. Tenho uma ligação muito forte, foi aqui que cresci, vivia perto das instalações desportivas e estive sempre proximamente ligado. Depois, dei a minha volta na carreira e acabei por voltar. Voltei a casa há quatro anos e não pretendo sair. Estou aqui até ao último dos meus dias, porque é aqui que me sinto bem.

      ZZ: Foi essa paixão que o fez regressar?

      JR: Exatamente. Eu já tinha manifestado essa intenção na Oliveirense [2015-2017]. No meu último ano na Oliveirense disse aos dirigentes que não tinha idade para andar para trás e para a frente e que a minha intenção era regressar ao Póvoa. Não fosse o Benfica e teria regressado mais cedo. Era a minha intenção e foi verbalizada ao presidente da Oliveirense. Foi um regresso previsto, preparado e as pessoas do clube sabiam. Algumas desconfiaram, mas eu sempre disse que era a minha ideia, até porque estive vários anos afastado da família. Estive mais de dez anos fora, afastado dos meus filhos e família, porque saia de casa ao final da tarde para dar o treino e regressava ao final da noite, já com todos a dormir. Senti essa necessidade. Aliás, o meu regresso é para o escalão de sub-18 porque lhes fiz a promessa de os treinar pelo menos um ano. Foi a minha forma de pagar a dívida [risos].  A ligação não é pelo resultado desportivo, mas por uma ligação que já vem longa. É uma intenção de alertar os patrocinadores que o clube está estável do que premiar apenas o resultado desportivo [qualificação para os play-offs]. Aliás, o CD Póvoa sempre foi assim, que respeita muito a figura do treinador e onde os resultados desportivos não influenciam a sua continuidade, mas sim a sua postura, compromisso profissional. O Desportivo da Póvoa tem um respeito muito grande pela figura do treinador em todas as modalidades.

      José Ricardo
      1 títulos oficiais

      ZZ: O passo seguinte é esse da estabilidade?

      JR: É essa a intenção e este é um ano extremamente importante para isso. A equipa é extremamente jovem, não vamos esconder o facto dos jogadores estrangeiros terem um papel decisivo na nossa performance, mas são protagonistas com outros que nunca tiveram contacto competitivo com este nível antes. Era muito importante conseguir a manutenção, porque vamos ter mais um ano de experiência para os nossos jovens e, se cá ficarem, mais fortes ficarão. Temos atrás deles outros jovens com qualidade e podemos “transformar-nos” num clube da Liga em 2/3 anos. A manutenção era muito importante para vários aspetos e esse era um deles. Um outro aspeto é que o basquetebol faz cinquenta anos em 2022 na Póvoa de Varzim e no Desportivo da Póvoa. Também esta coincidência levava a que considerássemos a manutenção importante. É uma coincidência, mas não deixa de ser uma coincidência relevante para os nossos patrocinadores e adeptos. Depois tudo o que está relacionado com um clube da Liga. O basquetebol aumentou o seu número de atletas e visibilidade e isso só é conseguido se estivermos na Primeira Liga.

      ZZ: Além da juventude e dos estrangeiros, o Kapelan e o Delaney Blaylock até são dos melhores marcadores da Liga, fazem isto sem o vosso capitão, o Nuno Oliveira, que se lesionou na pré-época.

      JR: Nós tivemos uma série de peripécias ao longo da época que tornaram esta manutenção ainda mais saborosa. Havia muita gente que considerava que os nossos jovens estavam demasiado verdes para esta competição, interna e externamente. Internamente havia quem entendia que os jogadores jovens eram excessivamente inexperientes para estas lides. Quando estive associado aos sub-18, disse logo que aqueles garotos, que agora são seniores, já deviam estar a ser utilizados nos seniores, porque eram o futuro do clube. Contudo, eu estive vários anos fora e as minhas intervenções não foram bem vistas. Achavam que estava a exagerar. Entretanto, a equipa sobe à Proliga, era eu o treinador e, sendo eu a mandar, fizemos várias alterações. Muita gente achava que não íamos conseguir ao chegar agora à Liga e, ainda para mais, deu-se essa lesão do Nuno Oliveira. Ao mesmo tempo, estamos aqui numa guerra institucional para com a Federação, não a escondemos, e que curiosamente começa nos estrangeiros, porque eu acho que estes são alterados na Liga ao sabor das necessidades das motivações de Benfica, Sporting e FC Porto e não do basquetebol português. Começa tudo na definição do número de estrangeiros. Nós consideramos que até podem ser dez estrangeiros, mas tem que haver uma discussão séria do assunto. Temos que explicar porque queremos dez estrangeiros e que efeito isso vai ter nos próximos cinco anos no basquetebol português. Isto nunca é discutido. Olhando para as alterações do número de estrangeiros, nós não percebemos nada. Eram três, passaram para quatro, agora para cinco e fala-se da total abertura, mas não se discute dos efeitos que pode ter, que são claros. Também para nós foi importante dizermos que íamos jogar com quatro estrangeiros [ao invés de cinco]. Ninguém acreditou nisso. Dissemos que o lugar do Nuno Oliveira ia ser ocupado pelos nossos jovens e que a posição 1 [base] ia pertencer ao Diogo Gomes e ao Jorge Rodrigues. Algumas personagens do nosso basquetebol, algumas importantes, gargalharam. Os próprios treinadores da primeira divisão achavam não ser possível. Agora pergunto, foi ou não foi possível?

      ZZ: Eles mostraram ter mais maturidade do que se esperava….

      Aposta na juventude tem sido constante ©FPB
      JR: Eles só podem mostrar maturidade, se tiverem tempo para a mostrar. Se nós abrirmos isto a dez estrangeiros, não tenhamos dúvidas que o jogador português jogará menos tempo. Basta ver o estudo da alteração dos quatro para cinco estrangeiros, que foi publicado por mim e ninguém soube responder. É evidente que o argumento de que o jogador português tem que ter qualidade para jogar é politicamente inatacável. Não pode ter garantia administrativa de tempo de jogo mínimo. Isto é bonito, mas só se o jogador português tiver espaço. Se não tiver espaço, nunca mostrará competência. É preciso dar espaço em Portugal aos portugueses, porque os portugueses não jogam em mais nenhum campeonato. Não há nenhum português com relevância na ACB e só temos alguns das inferiores espanholas. Nós não exportamos jogadores e, portanto, o jogador português ou joga em Portugal, ou vai deixar de jogar. Esta é a nossa guerra e por isso foi importante mantermo-nos. Não estou a dizer que para o ano vamos ter só quatro, até podemos ter sete, se isto abrir, mas este ano acabámos e começámos com o mesmo discurso. Já quando estive em Barcelos tive o mesmo discurso e subimos à liga sem estrangeiros. Depois, mantivemo-nos com apenas um e estivemos vários anos na Liga. Durante uma série de anos tivemos abaixo do número permitido de estrangeiros e este ano o discurso era o mesmo. Queríamos apostar no jogador português e isso só com eles jogando. Entregámos a posição 1 a um garoto de 20 anos e outro de 18.

      ZZ: Na sua época de estreia na Primeira Liga, o CD Póvoa esteve em grande, causou algumas surpresas e conseguiu mesmo na última jornada qualificar-se para os play-offs. São designados de equipa sensação. Sentem isso?

      JR: Não sei se seremos a equipa sensação, mas somos seguramente uma equipa diferente. Isso acho que não restam dúvidas. Nós lançámos nomes que não faziam parte do panorama basquetebolístico português. Há aqui uma série de jogadores, que tiveram presenças em seleções jovens, mas não faziam parte do naipe de jogadores para uma Primeira Liga portuguesa. Falo do Diogo Gomes, Jorge Gomes e o João Embaló, um nome que conhecem, mas nunca jogou Liga e ganhou o seu espaço. Depois há uma série de jovens que foram dando contributos e são claramente contributos superiores àqueles que foram sendo dados pelas retaguardas de outros clubes, como o Rafael Costa ou o Miguel Rodrigues, dois jovens com 20 anos das nossas escolas. Temos um grupo de trabalho com a equipa A, B e a equipa Sub-18 que treina sobre o mesmo prisma e com a mesma equipa técnica. Há uma grande proximidade entre todas e circulação constante de jogadores. A equipa B treina constantemente com a A e, por vezes, dispenso os jogadores mais velhos do treino para haver uma grande articulação entre as duas. Além disso, todas as semanas temos, pelo menos um jogador da equipa sub-18 a vir treinar à equipa A.

      ZZ: Isso também cria uma certa motivação para os jovens

      lJosé Ricardo é voz ativa na aposta no jogador português ©FPB
      JR: Claro. Quem olha para o Jorge, pensa que também pode lá chegar e que a idade não é um entrave. Isto depois também permite que os adeptos conheçam os jogadores, associem nomes a caras e não tenham problemas em pronunciar os seus nomes. A permanência dos jogadores estrangeiros, e não a sua constante renovação, leva a uma maior identificação entre todos. Não tenho a mais pequena dúvida que, hoje, na cidade da Póvoa, todos sabem quem é o Kapelan. Isto tem a ver com a sua continuidade. Se eu substituir jogadores de x em x meses, que ligação haverá?

      ZZ: Um dos pormenores que se destaca é a ligação da equipa aos adeptos. O que nos pode dizer da mística da cidade e da paixão pela modalidade?

      JR: A cidade da Póvoa de Varzim tem índices de prática de desporto informal muito elevados em relação às médias do país. Isto facilita tudo o que está associado ao futebol associativo, a prática desportiva formal. Quem vier ao final da tarde à nossa cidade vê milhares de poveiros a caminhar junto à marginal, a caminhar no parque da cidade, a fazer atividade física informal nos campos das várias modalidades. Isso facilita o passo seguinte, que é vinculá-los ao associativismo. Temos que fazer depois o nosso trabalho, que é associar o trabalho na equipa sénior à formação. Eles sabem quem são os jogadores e sabem que são da formação e poveiros. Nós damos um apoio tremendo fora da esfera desportiva aos nossos jogadores e apoiamo-los a nível académico. A escola está sempre em primeiro e todos os nossos jogadores estão no ensino superior. Todos são bons alunos e treinam todos os dias. Quanto aos fãs, com conhecem as caras dos jogadores, é mais fácil associarem-se ao projeto. Além disso, os nossos jogadores estrangeiros vêm para ficar, pelo menos, o ano todo. Temos o cuidado de os manter, para as pessoas os conhecerem. O apoio que nos dão no pavilhão deve-se também a isso, porque há uma identificação enorme da identidade de quem está dentro de campo. Ninguém vai ver um jogo de futebol sem saber quem é o defesa direito da sua equipa. Se me perguntar os jogadores estrangeiros de todas as equipas da Liga, eu não saberei dizer, porque as substituições foram imensas. Como é que querem ter os pavilhões cheios se as pessoas não sabem o nome dos jogadores? Tenho a certeza a absoluta que na Póvoa de Varzim se chegarmos ao pavilhão e perguntarmos o nome dos quatro estrangeiros, as pessoas sabem na hora. Na hora também dizem os restantes elementos do plantel e isto faz toda a diferença. Há poucos pavilhões como o nosso, Sangalhos e Esgueira são dos poucos exemplos.

      ZZ: O que se pode esperar do CD Póvoa nesta 2º fase e nos play-offs? Pode haver surpresa?

      JR: Nesta 2ª fase vamos tentar ganhar o maior número de jogos possível. Não é fácil, até porque a equipa que está imediatamente a seguir a nós era o Lusitânia e perdemos nos Açores, o que torna mais difícil subir um lugar. A 2ª fase, com quatro equipas, diminui o número de jogos e a possibilidade de recuperarmos, mas quem nos conhece sabe que vamos dar o que temos e o que não temos nos jogos que restam e vamos fazer dos jogos em nossa casa uma festa. No final fazemos as contas e se terminarmos em 8º estaremos muito orgulhosos da nossa performance. Nos play-offs, deixaremos tudo em campo.



      Portugal
      José Ricardo
      NomeJosé Ricardo Neves Rodrigues
      Nascimento/Idade1965-12-30(58 anos)
      Nacionalidade
      Portugal
      Portugal
      FunçãoTreinador

      Fotografias(13)

      Taça de Portugal 23/24| Benfica x CD Póvoa (Meias-Finais)

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