Distam pouco mais de 20 anos entre as duas caminhadas, mas - (obviamente) ainda sem sabermos o desfecho de uma delas - sabemos que em 2001 «tudo estava bem quando acabou bem».
2000. Um ano em que se viu quebrada a «ditadura dos três grandes» e foi consagrado novo campeão nacional em Portugal.
Recordando o início dessa temporada, o Sporting era o anunciado candidato ao título. João Vieira Pinto trocou de lado na Segunda Circular - o que fez com que o Benfica se visse privado de uma das suas grandes figuras - e o FC Porto disse adeus a Mário Jardel.
Sem grande nome no cardápio da concorrência no virar do século, o Boavista arrancou com as armas que tinha. Jaime Pacheco era o timoneiro de uma equipa com ambição alargada e de nomes, hoje em dia, ainda bem conhecidos, como Petit que é o atual treinador do emblema.
O Boavista não marcava tantos golos nas 2 primeiras jornadas (7) desde o ano em que foi campeão - marcou 8 nos 2 primeiros jogos em 2000/01
⚠ Os axadrezados arrancaram o campeonato com 2 triunfos nas 2 primeiras jornadas pela 2.ª época consecutiva pic.twitter.com/wVRzTQBBKx
— Playmaker (@playmaker_PT) August 21, 2023
18 de agosto de 2000. 4-2. A deslocação ao Mário Duarte, depois da felicidade da vitória da Ronda de Qualificação na Taça UEFA frente ao Barry Town, não podia calhar melhor.
O trio da frente axadrezada, composto com Duda, Elpídio Silva e Rogério Melo - que acabou por não ter um bom desfecho no encontro, depois de Olegário Benquerença ter ordenado a expulsão - mostrou que veio com vontade e os quatro golos que compuseram o resultado acabaram por ser prova disso.
28 de agosto de 2000. 4-0. Receção à União de Leiria e novo rasgo de esperança.
Erwin Sánchez foi quem abriu o marcador, Rui Óscar aumentou a vantagem, Elpídio voltou a deixar marca e, do banco Whelliton fechou o resultado com assistência de Martelinho.
14 de agosto de 2023. 3-2. «De loucos.»
A abertura do campeonato para os panteras aconteceu no Bessa frente ao campeão nacional, Benfica.
Os encarnados chegaram a estar a vencer por duas vezes, mas a incisão ofensiva dos comandados de Petit, com um Robert Bozenik letal e Petar Musa a ver o jogo no balneário após expulsão, ditou a primeira vitória na nova edição do campeonato.
19 de agosto de 2023. 4-1. A viagem de casa até ao verão algarvio.
Com uma primeira parte a roçar a perfeição frente a um Portimonense quase imóvel, até às substituições promovidas por Paulo Sérgio, a goleada chegou e a estatística foi alcançada: «O Boavista não marcava tantos golos nas 2 primeiras jornadas (7) desde o ano em que foi campeão - marcou 8 nos 2 primeiros jogos em 2000/01», como escrito pelo nosso Playmaker.
18 de maio de 2001. Receção ao CD Aves. O consagrar campeão nacional. Tudo isto, vivido na primeira pessoa, torna o momento mais emocionante.
O zerozero tentou falar com um dos integrantes do famoso Boavistão. William Quevedo atendeu o telemóvel da maneira mais sorridente possível. «Desculpem o meu português, mas só arranho. Não vou a Portugal há muitos anos. Mesmo assim, é sempre muito bom falar do meu Boavista.»
A partir daí, a conversa fluiu. Tinha saudades de falar dos axadrezados. «O tempo passa muito rápido. Já estou velho», afirma, entre risos, enquanto relembrava a conquista.
«Estive em Portugal quatro anos e foram os anos da minha vida. Ainda falo com todos os meus amigos sobre o tempo passado lá em Portugal. Vou recordar até ao fim da minha vida. Fica mesmo cravado na minha cabeça.»
Entre elogios ao país e à cidade, Quevedo confidenciou sentir-se português sem o ser. «Tínhamos um grupo de trabalho fantástico, os adeptos andavam sempre atrás de nós. Éramos uma família.»
Foram ineditamente campeões. O antigo ala francês recorda todos esses momentos com o maior carinho e saudade, principalmente do jogo da consagração.
«Parecíamos miúdos. Era muita alegria, mas muita pressão. Sabíamos que tínhamos de manter a humildade, mas eu nem sei o que sentia na barriga.» Stressé et anxieux, como enunciou em francês.
Quevedo e Petit partilharam balneário nesse ano de brilho do Boavista. Hoje, o médio é o atual treinador dos panteras.
As recordações que guarda de Armando Teixeira, como nome de nascimento, remontam àquele singular encontro. «No final do jogo com o CD Aves, quando o árbitro apitou, começámos todos a celebrar. Toda a gente entrou pelo relvado adentro, mas ele estava no chão. Momentos antes de acabar, ele tinha levado uma pancada e ficou ali estendido, enquanto estávamos todos aos saltos.»
Mesmo assim, relembra o agora treinador de 46 anos como um homem tranquilo, mas... «era um 'gajo' espetacular, que sabia muito da vida. Era um brincalhão, mas, em campo, era um verdadeiro guerreiro.»
Quevedo transpôs a mentalidade do Petit do antigamente para o de agora, sempre com o campeonato e as «ambições desmedidas» em vista.
«Sempre teve o espírito de vencedor. Ainda agora o tem. Está-lhe no sangue. E, se ele era assim como jogador, sei que como treinador é ainda mais difícil. Tem aquela vontade de ganhar. Jogo a jogo. Treino a treino.»
Sobre este arranque de campeonato, manteve os «pés na terra». As vitórias frente a Benfica e Portimonense foram importantes nesta nova caminhada, porém «faltam 32 jogos».
«Só começou agora. Começaram bem, mas temos de ser humildes e ter serenidade. Temos de jogar com alegria porque ainda há muito trabalho. Se eu tenho orgulho quando abro a tabela e vejo o Boavista lá em cima? Tenho muito, sou mesmo orgulhoso disso. Sem humildade não chegamos a lado nenhum.»
Quevedo desligou a chamada, a sorrir, voltou a pedir desculpa pelo português arranhado e cimentou: «Isto dá-me alegria. O Boavista dá-me alegria.»
1-4 | ||
Filipe Relvas 6' (p.b.) Ronie Carrillo 90' | Róbert Bozeník 9' Tiago Morais 22' Ilija Vukotic 90' |