13 de fevereiro de 2002. Bamako, no Mali. Os campeões africanos em título Camarões, com um emergente Samuel Eto'o entre as suas fileiras, chegam à final de mais um CAN (Campeonato das Nações Africanas) e pela frente tinham o Senegal, que procurava conquistar o torneio pela primeira vez na história.
Coube a Aliou Cissé, médio defensivo que na altura atuava no Montpellier, por empréstimo do Paris SG, a responsabilidade de bater o 5º penálti senegalês. O médio colocou a bola na marca, deu dez passos para trás, virou-se de costas para a baliza, virou-se e correu para a bola. Atirou para sua esquerda, mas o guarda-redes camaronês Alioum Boukar adivinhou o lado e com uma defesa pouco ortodoxa defendeu e entregou o título de campeão africano ao seu país, para transtorno de Cissé e do Senegal.
Aliou Cissé prosseguiu a sua carreira de jogador entre França e Inglaterra e acabou por pendurar as chuteiras em 2009, iniciando a carreira de treinador no ano seguinte. Começou pelo modesto Louhans Cuiseaux FC, das divisões inferiores francesas, enquanto treinador-adjunto, mas em 2012 regressou ao seu país e à «sua» seleção, também enquanto treinador-adjunto.
No ano seguinte, o Senegal procurou a redenção e a história no CAN. Terminaram em 2º na fase de grupos, apenas atrás da Argélia, ultrapassaram o Uganda, Benim e Tunísia e na fase a eliminar e chegaram à sua 2ª final na história, reencontrando precisamente os argelinos. A Argélia, que contava também com a sua nova geração de ouro (jogadores como Mahrez, Slimani e Brahimi) foi mais feliz e venceu por 0x1, com um golo de Baghdad Bounedjah logo aos dois minutos, Cissé e o Senegal falhavam a redenção.
Três anos mais tarde, e depois de uma fase de qualificação tranquila, o Senegal tinha no CAN 2021 - que foi adiado para 2022 devido à pandemia de covid-19 - mais uma oportunidade de redenção, com uma seleção cada vez mais consolidada de talentos a atuar nos principais campeonato e equipas europeus, entre os quais a estrela Sadio Mané, do Liverpool.
Não foi por falta de preparação do guarda-redes Gabaski que o Egito perdeu nas grandes penalidades da final da CAN.
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— B24 (@B24PT) February 7, 2022
Desta vez, embora com algumas dificuldades, os senegaleses terminaram em 1º lugar num grupo com a Guiné Conacri, Maláui e Zimbabué e na fase a eliminar ultrapassaram Cabo Verde, Guiné Equatorial e o Burquina Faso. Era altura da sua 3ª final da história, a 3º oportunidade de Aliou Cissé - que já tinha estado nas últimas duas -, nos Camarões.
Pela frente estava o Egito de Mohamed Salah, onde Carlos Queiroz pretendia tornar-se o primeiro português a vencer um CAN. A partida mostrou duas seleções quase sempre muito contidas, mas foi o Senegal quem esteve por cima na sua maioria e não fosse Gabaski, guarda-redes egípcio, em grande, os senegaleses teriam festejado até diversas vezes.
Como que obra do destino, a partida seria novamente decidida nas grandes penalidades. Certamente Aliou Cissé relembrou aquela sequência de penáltis 20 anos antes, mas desta vez teria que assistir e sofrer à mesma a partir do banco de suplentes. Gabaski levou o trabalho de casa (muito) bem estudado - ver vídeo ao lado -, mas no final, foi Édouard Mendy, guardião senegalês, quem brilhou e Sadio Mané - que foi corado melhor jogador da prova - bateu o penálti decisivo.
O Senegal vencia por 4x2 no desempate por grandes penalidades, vencia o CAN pela 1ª vez na história, tornava-se a 16ª seleção a conquistar a prova e Aliou Cissé redimia-se daquele penálti na sua 3ª final e inscrevia o seu nome na história do país como o treinador que deu o primeiro título de campeão africano ao Senegal. A redenção de Aliou Cissé.