Ao contrário da profecia de Todd Boehly, os londrinos não foram felizes em Espanha (2-0). Na segunda mão, a jogar em casa diante do atual campeão europeu, havia uma dura (quase hercúlea) montanha para escalar. Nesta escalada, o Chelsea ficou-se pelo sopé e voltou a perder por duas bolas a zero (0-2) diante do Real.
A precisar de uma contundente vitória para continuar a sonhar, o interino Frank Lampard deixou João Félix no banco e alinhou num 5-4-1, com Kanté e Gallagher a servirem de apoio, à vez, ao avançado Kai Havertz. Do outro lado, Don Carlo não inventou e levou a jogo o seu típico 4-3-3.
O esquema tático (e sobretudo a ausência de referências ofensivas) trouxe algumas dúvidas sobre qual seria a forma que o Chelsea iria abordar o jogo. Além disso, a ausência da habitual música da Champions na entrada das equipas (momento caricato) poderia ser entendida como um indício trágico, mas o que é certo é que os blues entraram fortes e pressionantes, a tentar asfixiar a primeira fase de construção adversária.
Kanté foi o dono do primeiro bruar da noite. Apareceu em zona de perigo, perto da área, mas finalizou mal (sem surpresas, não é o seu forte); de qualquer das formas, foi o suficiente para incendiar Stamford Bridge, para uma noite que os londrinos esperavam que fosse de boa memória.
Contudo, pela frente estava o Real Madrid - a melhor equipa da Europa a fingir que está morta - Rodrygo rematou ao poste e Modric também atirou com perigo, relembrando os da casa que, de um momento para o outro, o golo poderia chegar.
Ainda assim, a melhor oportunidade do primeiro tempo surgiu já perto do descanso, pelo pé esquerdo de Cucurella, que recebeu sozinho ao segundo poste e foi «comido» pela enorme mancha de Courtois, numa altura em que a euforia e a expectativa eram tantas que até os cantos já se festejavam como golos.
Depois do descanso, Kanté voltou a ser o homem que aparecia em zonas de perigo, mas a história não se repetiu. Os blancos entenderam que já estava na altura de parar com brincadeiras e deixaram de perdoar; Rodrygo iniciou e finalizou um ataque rápido e colocou uma pedra sobre a eliminatória.
Com três golos de desvantagem, Lampard «acordou» e colocou três homens de ataque - João Félix, Sterling e Mudryk - no lugar de dois médios e um defesa e, como resposta, sofreu mais um golo. Desta vez, foi Valverde a fazer o trabalho «sujo» (tirou três homens do caminho e tocou ao lado) e voltou a ser Rodrygo a finalizar (bis do brasileiro).
Até ao final, as oportunidades até existiram (Vinícius tentou marcar, Félix e Mudryk também andaram perto), mas golos é que não; com quatro golos de vantagem na eliminatória, o Real fechou a loja e o Chelsea nunca foi capaz de fazer o tento de honra, para festejo (por mais pálido que fosse) dos adeptos da casa.
Com este resultado, o Real passou à próxima fase - nada de novo, nas últimas 13 edições, foram 11 vezes às meias finais - onde espera pelo Manchester City ou Bayern. Do outro lado, o Chelsea, além de ficar pelo caminho, fica sem competições para sonhar, tendo em conta a péssima prestação interna - 11º lugar na Premier League.
É o habitual, senhoras e senhores. Estes 90 minutos adequam-se bem às diferentes (e vitoriosas) campanhas da equipa de Madrid na Liga dos Campeões. O adversário até pode ter momentos superiores (há Courtois para acalmar os ânimos), mas este Real nunca adormece, muito menos dá o jogo por perdido. Tem consciência da qualidade que têm e, «quando o diabo esfrega o olho», vão à frente, marcam os que têm a marcar e resolvem o que há para resolver. Nesta competição, só deixam de ser candidatos quando estiverem em desvantagem e todos os jogadores já estiverem sentados no autocarro; até lá, é melhor não apostar contra.
Muitas dificuldades em entender a forma como este Chelsea é gerido, algumas em entender como Lampard preparou esta partida. Olhando para os esquemas táticos e para os jogadores escolhidos, até parecia que quem estava em vantagem era o Chelsea. A abordagem foi demasiado cautelosa para quem necessitava de vencer; as oportunidades até surgiram, mas na altura de empurrar para a baliza, apareceram médios (ou até mesmo defesas) que não estavam habituados a tal. Quando a eliminatória estava 3-0 para o adversário, Lampard colocou três avançados; de pouco serviu. Difícil entender toda esta gestão.
Uma performance discreta. Houve dúvidas num lance da segunda parte com Militão (já amarelado), mas o árbitro optou por não mostrar o segundo amarelo, o que não foi descabido, apesar de existirem outras interpretações. De resto, nada a apontar, o que é sempre positivo.