Roberto Martínez arrancou a aventura por terras portuguesas com uma goleada frente ao Liechtenstein, por 4-0. O resultado, embora expressivo, acabou por ser tímido, tendo em conta o domínio português e a falta de oposição do adversário, mas o novo selecionador terá aproveitado para tirar algumas notas para um futuro que todos esperam ser mais risonho do que sisudo.
Cristiano Ronaldo foi titular, fez história ao tornar-se no jogador mais internacional de sempre e ainda bisou com dois golos de bola parada na segunda parte. Também para o capitão, o ambiente parece estar muito mais agradável.
Dia de estreia. Enquanto tomava o banho matinal, Roberto Martínez olhou-se ao espelho e ensaiou. Ensaiou a tática, que, pela primeira vez, foi de 3-4-3, e o hino, que, também pela primeira vez, foi cantado por um treinador espanhol no cargo de selecionador nacional de Portugal. A afinação ainda não estará no ponto, não só na questão musical, mas também na questão tática.
As mudanças não acontecem da noite para o dia e Martínez mostrou isso logo na convocatória, que contou apenas com dois estreantes, sendo que um deles (Diogo Leite) até ficou fora dos convocados. Primeiro é preciso ver o que estava mal que para Fernando Santos tivesse sido despedido. Frente ao Liechtenstein, seria difícil tirar grandes notas no ainda liso bloco do novo selecionador, mas terá dado para os primeiros rabiscos.
A entrada de Portugal deu uma ideia errada do que seria a partida. João Cancelo marcou na ressaca de uma bola parada e acreditou-se que a equipa de Martínez iria, a partir daí, cilindrar a frágil equipa do Liechtenstein.
Se olharmos apenas para questões como a posse de bola ou o domínio territorial, não deixa de ser uma verdade que Portugal cilindrou o adversário, mas também não podia ser de outra forma. Com o adversário recolhido na sua área e Büchel a atrasar cada reposição, o 1-0 era o mesmo que uma vitória para o Liechtenstein, que protegeu o resultado da forma que é capaz.
Caberia a Portugal encontrar as soluções para contrariar essa muralha. Foi (também) por isso que Fernando Santos caiu, mas para já Martínez ainda não conseguiu encontrar a solução perfeita. Pedir isso à primeira oportunidade seria injusto. Previsível, Portugal só agitou quando Félix e Raphäel Guerreiro conseguiam combinar pela esquerda, mas a falta de acerto - Cristiano Ronaldo, o mais internacional de sempre, teve duas oportunidades claras - foi a penalização para um jogo pouco capaz da turma portuguesa até então.
Martínez pediu mais, afinal de contas era o seu primeiro dia.
Mais velocidade, mais dinâmica, mais combinações... mais golos! Os pedidos terão ido nesse sentido e os jogadores acabaram por dar ouvidos ao novo selecionador.
Portugal apareceu com o mesmo rosto, mas outra vontade. A demonstração foi dada logo no segundo minuto, quando Bernardo Silva fez o 2-0 numa jogada criada pela direita, que viria a ser, a partir daí, a rota favorita da equipa portuguesa.
Aí surgiu um trio que Martínez terá certamente colocado a sublinhado no tal bloco de notas - Cancelo, Bernardo Silva e Bruno Fernandes. Os três jogaram por perto, combinaram sempre que possível e Portugal cresceu em termos ofensivos. Depois foi esperar que Cristiano Ronaldo quisesse juntar-se à festa.
De penálti, o capitão da seleção celebrou a conquista de mais um recorde enquanto gritou, em uníssono com o público de Alvalade, o seu típico «siiii», situação que se repetiu minutos mais tarde, quando CR7 reencontrou a sua apetência para os livres diretos, com um remate forte que Büchel não conseguiu parar.
O principal estava feito e por muito que o público português pedisse «mais um», Portugal ficou-se pelo tímido 4-0, que seria um resultado incrível contra quase todas as seleções, menos contra o Liechtenstein (e mais umas do mesmo calibre). Rafael Leão agitou, João Mário dividiu o público entre aplausos e assobios e Martínez celebrou a sua estreia com uma vitória da qual ninguém duvidava.
Convincente para o primeiro jogo? Os mais exigentes dirão que não, mas Portugal não vencia um jogo de estreia para uma qualificação do Europeu desde 2000!
Ter os melhores em campo é uma excelente receita para o sucesso, especialmente se eles estiverem perto uns dos outros. Depois de uma primeira parte pobre, Martínez aproximou Bernardo, Bruno e Cancelo e as melhorias foram evidentes.
Para primeira amostra, os 45 minutos iniciais não foram nada entusiasmantes. O golo de Cancelo, apontado numa fase inicial da partida, podia servir para animar o encontro e catapultar Portugal para uma grande exibição do início ao fim, mas a primeira parte foi pouco interessante e a falta de ideias foi notória.