Um diabo vermelho e um cartão da mesma cor são o incontornável cabeçalho da primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, disputada pelo FC Porto em Milão. Otávio foi infeliz no regresso, de todas as formas possíveis. Conceição tropeçou num estádio onde outrora brilhou. O que correu bem será rapidamente esquecido, na frustração de uma derrota que, até bem tarde, nem pareceu estar nas cartas.
A pisa de Otávio alimentou a vitória italiana, mas a fome portuguesa ainda aperta. Por agora vale a festa de Lukaku, mas o consolo do dragão vem na forma de um aviso: ainda falta metade.
Não é preciso milagres para que o FC Porto vá a Milão conquistar um resultado positivo, mas também não deixam de ser bem-vindos. Todos os detalhes contam e a surpreendente entrada de um trio de recuperados - Otávio, Uribe e Galeno - no onze visitante foi, certamente, uma boa notícia. Antes do jogo, isto é.
Não necessariamente relacionada com essas boas notícias estava a boa disposição dos portugueses no topo sul. Cânticos draconianos fizeram-se banda sonora do pré-jogo, até à hora que o Giuseppe Meazza encheu e a curva nord assumiu toda a responsabilidade e despesas da poluição sonora. Assim continuou, bem para lá do apito inicial.
Dentro das quatro linhas, um início tímido. Segurança vale muito em fases adiantadas da maior prova de clubes e por isso foi preciso esperar mais de 10 minutos para ver uma tentativa de finalização. Lautaro atirou por cima, de cabeça, mas o capitão do Internazionale não foi o único que se evidenciou...
Foi já em cima do intervalo que o ponta de lança azul e branco, hoje de amarelo, foi génio e da lâmpada tirou um desejo que nem Grujic sabia ter: o passe perfeito, com a sola da bota. O sérvio - que bem jogou, também... - obrigou Onana a uma boa defesa e Galeno falhou uma recarga que era, até ao momento, a maior ocasião do jogo.
A primeira parte só não acabou em alívio para os da casa porque ainda houve tempo para revolta. Otávio incendiou os ânimos, quando tentou apanhar o adversário distraído após uma lesão nerazzurra. Viu um cartão amarelo que - e aqui perdoe-nos o spoiler - mais tarde custaria muito.
A canção do dragão soou mais rápido no segundo tempo, quando João Mário bateu Dimarco em finta e despoletou uma série de acontecimentos em cadeia. Primeiro, um contragolpe que só não foi perfeito porque não terminou em golo, graças a um corte de Skriniar e uma dupla defesa de Onana. Depois, uma dupla substituição de Inzaghi, que induziu stress pós-traumático aos portugueses, lançando Gosens (Euro 2020 ainda dá calafrios), e simultaneamente... Romelu Lukaku.
Desfecho amargo em Milão, depois de um jogo que foi, na sua maior fatia, extremamente equilibrado. Também é certo que o sonho segue bem vivo, já que estamos apenas no intervalo de uma eliminatória que será decidida no covil do dragão.
O desfecho esteve longe do ideal, mas é delicioso o facto de que as presenças de equipas portuguesas nesta fase da Liga dos Campeões seja uma rotina. Apesar da derrota, O FC Porto esteve de igual para igual no estádio de um gigante europeu, mais uma vez. É este o seu lugar.
É o primeiro cartão vermelho da carreira de Otávio (um dado que, embora verdadeiro, não o parece ser), mas chegou num momento desagradável. O internacional português foi uma importante surpresa no onze e tentou ser elo de equilíbrio no corredor interior, mas esteve longe do melhor nível e acabou por ficar ligado à derrota.