É impossível fugir àquela 1ª parte de nível baixíssimo, mas a verdade é que tudo melhorou na 2ª parte quando as equipas finalmente começaram a arriscar e largaram um desenho tático estático. No final, os Gansos voltaram a sorrir no principal escalão do futebol português 83 anos depois, ao baterem as Panteras por 2-0.
Apesar de não ter vencido em qualquer dos dois jogos disputados até então na Liga Portugal Bwin, o técnico Filipe Martins manteve a confiança nos mesmos onze titulares do jogo com o Benfica (0-1). Do lado do Boavista, por sua vez, Petit pôde finalmente contar com os reforços deste mercado de transferência, depois de regularizada a dívida a Adil Rami, e chamou ao onze titular algumas novidades, como Pedro Malheiro, Róbert Bozenik e Salvador Agra.
Com ambas as equipas a apresentarem-se nos seus habituais 3x4x3, o encaixe posicional entre Gansos e Panteras era evidente e bastava, por isso, perceber as dinâmicas dentro de campo que estas iam impor. O Casa Pia começou por defender em bloco baixo, apenas pressionando em certas zonas, por forma a perceber como o Boavista se ia apresentar, mas a verdade é que os axadrezados estavam com alguma dificuldade em ter bola e isso permitiu aos lisboetas assumir um pouco mais as rédeas do jogo.
Contudo, apesar de terem mais bola, a verdade é que os Gansos não estavam também propriamente inspirados no ataque e sem ser algumas arrancadas de Godwin pela esquerda e umas pinceladas de Kunimoto ao nível do passe, pouco houve a apontar. Os dois extremos tentaram alguns movimentos de rotura para o meio, com Rafael Martins a baixar para junto do miolo para tentar arrastar o central, mas faltou sempre aquele último passe de maior qualidade e a 1ª parte terminou praticamente sem oportunidades de relevo a apontar. Pedia-se melhor num jogo da Primeira Liga.
Depois de uma 1ª parte que deixou muito a desejar, dos dois lados, os primeiros minutos do segundo tempo mostraram desde logo uma clara mudança de intensidade, com mais intensidade na troca e disputa de bola. Do lado do Boavista, a grande diferença, especialmente no ataque foi a clara aproximação e maior disponibilidade ao jogo de Makouta, que claramente permitiu à equipa acelerar processos e jogar cada vez mais perto da baliza adversária, de tal modo que os axadrezados criaram logo um par de grandes oportunidades. O reforço Bozeník esteve pertíssimo de se estrear a marcar.
A perder, o Boavista passou a arriscar ainda mais e subiu as linhas, o que acabou por ser devastador. O Casa Pia sabe e soube defender-se e tem em Godwin uma autêntica flecha pronta a atacar a profundidade. O extremo nigeriano foi desmarcado de forma exímia por Kunimoto e não deu hipóteses a Sasso, fazendo o 2-0 ao chegar à área boavisteira. Os Gansos estavam no seu habitat.
Desesperado, Petit fez de tudo nos últimos 20 minutos para não acabar com a sua invencibilidade esta temporada e colocou «a carne toda no assador». Gorré teve uma oportunidade a alguns minutos dos 90', mas, em ótima posição, cabeceou frouxo e falhou em relançar o jogo. O Casa Pia aguentou-se com unhas e dentes e acabou por conseguir a vitória por 2-0, a primeira nesta temporada e a primeira no principal escalão do futebol português em mais de 83 anos.
O futebol é assim. Arrisca-se para tentar melhorar e, por vezes, sofre-se com isso. A opção de Petit na 2ª parte de dar mais espaço ofensivo para Makouta foi boa e o Boavista esteve muito perto do golo, mas acabou por ser traído por si mesmo, face ao espaço que isso deu ao Casa Pia para sair em velocidade. Como se costuma dizer, é futebol.
Dificilmente a 1ª parte do jogo podia ter sido pior. As equipas estavam encaixadas a nível tático e nada fizeram para tentar desfazer esse puzzle. Faltou imensa qualidade e ideias para um jogo deste nível.
O francês Pierre Gaillouste pareceu algo nervoso nos primeiros minutos e a procurar excessivamente impor a sua autoridade. Deixou o jogo fluir e tentou apitar poucas faltas, mas demorou demasiado até dar o primeiro cartão, que apenas chegou ao minuto 73.