Foi uma noite de jogo grande no estádio do Bessa. Com um ambiente memorável nas bancadas (foram 12.714), o clássico entre Boavista e Vitória Sport Clube, da 33ª jornada da Liga bwin, terminou com um empate (1-1) que conta a história em duas partes: a primeira foi dos vimaranenses, a segunda das panteras.
Em jogo, para além do orgulho de uma rivalidade com décadas, estava, sobretudo, a esperança vitoriana de ainda conseguir chegar ao tão desejado 5º lugar no sprint final deste campeonato. Ainda que diretamente dependentes do Gil Vicente, a equipa de Pepa tinha obrigatoriamente de cumprir o seu papel. E foi essa necessidade que acabou por se notar no relvado do Bessa.
Sem ser brilhante, o Vitória SC foi mais afoito e mais ativo. Com Rochinha recuperado, foi do extremo a primeira ameaça (6'), ainda que sem perigo efetivo para Bracali. Bem mais perigosa foi a dupla ocasião do minuto 19, quando o capitão das panteras travou um primeiro remate de Rafa Soares (que teve todo o tempo do mundo) e, na «ressaca», viu o remate de Janvier tirar tinta ao poste.
A superioridade vitoriana foi-se tornando inevitável com o passar dos minutos e, por isso, a vantagem assentou bem à história do jogo. Estupiñán, que pode estar de saída do «berço», continua a ser vital e foi dele o cabeceamento fulgurante ao primeiro poste após canto de Tiago Silva; Bracali ficou «colado» ao relvado e aos 25 minutos ficou desfeito o nulo na cidade do Porto.
Foi um Boavista menos vistoso e mais aflito nos seus processos. As baixas pesaram, e muito; desde logo a de Petit no banco. Mas foi a ausência de Musa que fez mais estragos nos axadrezados, porque os golos e a qualidade do croata como homem da frente são essenciais, mas também porque obrigou Kenji Gorré a assumir esse papel, onde teve dificuldades.
E sem Musa no meio e Gorré na linha, onde é fortíssimo, o Boavista não «carburou» como se esperava. Pelo menos, até à mudança, ainda dentro da primeira parte. Petit, à distância, percebeu essa problemática e mexeu; sacrificou Luís Santos e lançou Yusupha, devolvendo, com isso, Gorré ao seu habitat natural. E, como que por «magia», a pantera rugiu à frente.
Foi impressionante a influência do extremo a partir do flanco. Gorré tirou adversários do caminho em velocidade - porque voltou a ter o espaço para a aplicar - e no primeiro quarto de hora da segunda parte serviu colegas e empolgou a plateia. O trabalho, aos 47 minutos, na esquerda acabou com Hamache a cabecear para uma defesa apertadíssima de Bruno Varela.
Houve jogo. O dedo vindo do banco, corrigindo a imperfeição no alinhamento inicial, deu a alma e a eletricidade final a um jogo que passou a ser em dois sentidos. Com Rochinha (48') e Rafa Soares (50') a produzirem perigo de um lado, Hamache e, sobretudo, Yusupha (66') do outro responderam à altura; o remate do avançado boavisteiro esbarrou mesmo no poste, perante um Varela batido.
Por tudo isto, o momento do minuto 69, tal como o golo vitoriano na primeira parte, escreveu justiça. Perante o maior caudal ofensivo, Ntep, que tinha entrado no minuto anterior, finalizou para dar o empate ao Boavista. E quando Mumin foi expulso (76'), a pantera carregou ainda mais. Gorré, Makouta e Ntep, nesses minutos, podiam ter dado a vitória aos axadrezados, mas Varela mostrou-se à altura - defesa estratosférica no último lance da partida.
Contas feitas, o Boavista, que já tinha a sua vida resolvida, somou mais um jogo sem derrota na era Petit. O Vitória, esse, agarra-se à derradeira esperança de uma derrota do Gil Vicente na receção ao Tondela para discutir a questão do 5º lugar no último jogo da temporada.
Que grande ambiente, digno de um clássico entre dois históricos do futebol português. O Bessa teve quase meia casa e a rivalidade entre panteras e vitorianos fez-se sentir em cada garganta. Por mais noites como esta, por mais ambientes como este.
Um jogo desta dimensão, com um ambiente destes, merecia os melhores em campo. No caso do Boavista, isso não foi possível em virtude das várias ausências por castigo e isso notou-se, sobretudo, na primeira parte. O dedo de Petit, contudo, mudou esse cenário no segundo tempo.
Clássico é clássico e o ambiente, dentro e fora das quatro linhas, não foi para menos. Ainda assim, Nuno Almeida teve sempre o controlo do jogo e das emoções - próprias e dos jogadores -, mesmo nos momentos mais quentes, quando expulsou Mumin.