Num duelo entre duas equipas que vestem de xadrez, sensações bem diferentes. O Boavista voltou às vitórias e assegurou matematicamente mais uma época de Liga Bwin. O Moreirense afundou-se de forma bastante perigosa e precisa cada vez mais da calculadora, já que a margem de erro acabou, com vista aos lugares de manutenção direta. Num jogo onde Sá Pinto pôde lamentar as várias ausências, a equipa esteve muito tempo a perder, chegou ao empate perto do fim, só que no minuto seguinte viu Musa fazer o segundo, antes de ser expulso.
Mesmo não estando a atravessar o melhor momento da época (até era o pior desde o regresso de Petit, em termos de resultados), foi notória a diferença entre as equipas em termos de confiança, o que foi totalmente agudizado pelo golo de Gorré, numa boa pressão axadrezada e conclusão do novo carregador do piano boavisteiro, depois da saída de Sauer.
A situação pontual ajuda a explicar a tal falta de confiança, mas não foi razão única. Artur Jorge, Derik e Walterson (por castigo), para além do lesionado Yan Matheus, fizeram com que as soluções de Sá Pinto fossem diferentes do habitual, com o treinador a optar por jogar com os laterais Paulinho e Pedro Amador mais subidos no terreno. O problema nem esteve tanto aí, esteve sim na retaguarda e na fraca capacidade de leitura posicional de alguns elementos, com especial incidência para o lado direito da defesa (com Gorré pela frente, não houve fórmula certa para travar as investidas das panteras) e no ataque, onde Sori Mané baixava para marcar Musa, muitas vezes mais poderoso nas divididas para depois servir a equipa.
Mas era preciso mais. A plateia, também ela ansiosa mas sempre ruidosa, ia tentando ajudar, só que teriam de ser as palavras de Sá Pinto ao intervalo a fazer a diferença.
A tendência inverteu-se na segunda parte. Apesar do bom pontapé de Musa que quase dava no 0-2, logo a seguir o Moreirense teve duas ótimas oportunidades e apoderou-se do meio-campo contrário
O Boavista viu-se forçado a recuar, mas não se deu mal nesse papel. Apesar de sair poucas vezes para o ataque, conseguiu controlar as tentativas do adversário no último terço na última meia hora. Sá Pinto mexeu na equipa, tentou soluções vindas do banco - onde não abundavam, é verdade - e fez pela vida, só que, por vezes, faltou qualidade.
Por isso, quando o empate apareceu, numa boa jogada dos cónegos, soou a benesse, logo desaproveitada em seguida, quando Musa ganhou aos adversários, passou pelo guarda-redes, marcou e... foi expulso. Tiago Martins entendeu que o avançado provocou os adeptos da casa, deu-lhe o segundo amarelo e o momento motivou uma série de cartões vermelhos para os bancos, com Petit incluído. Um momento que estragou o espetáculo e que não teve inocentes: os intervenientes excederam-se, o árbitro também não soube controlar as emoções da melhor maneira.
O adversário estava cheio de pressão e, perante isso, a equipa de Petit fez um jogo bastante competente do ponto de vista emocional, gerindo bem grande parte do desafio e evitando sufoco.
O Moreirense acusou muito o golo inaugural e deu quase uma parte de avanço, com muitas precipitações e pouca cabeça fria para assumir o jogo. Depois, não soube agarrar o golo do empate, esvaziando o balão logo a seguir.
Arbitragem pouco capaz, com vários equívocos. Ficam dúvidas se não há falta no segundo golo do Boavista e o que se seguiu foi lamentável: exagero na expulsão de Musa e pouca tolerância com os protestos dos bancos. Era necessária outra gestão emocional num jogo tão tenso, embora os intervenientes também não sejam inocentes.