Com meia hora trituradora, o FC Porto arrumou o assunto contra o Benfica e segue em frente na Taça de Portugal. Uma noite de gala dos portistas e confrangedora para o Benfica, que ainda teve na expulsão de Evanilson, perto do intervalo, a oportunidade de regressar ao jogo, mas que poucas vezes conseguiu assustar a repleta plateia azul e branca. Em época natalícia, o cabaz chegou a parecer maior, ainda que o resultado final não ofereça dúvidas: foi um FC Porto muito melhor, mesmo quando teve de recuar linhas. No fim, Otamendi ainda foi expulso e demonstrou o desnorte geral da águia, que vai ter de melhorar bastante para se apresentar de cara lavada neste mesmo palco, daqui a uma semana.
Que entrada impressionante do FC Porto! Todo o clube, dos jogadores aos adeptos, passando por treinadores e dirigentes, têm um gosto especial nestes jogos. É nos jogos grandes, como a Champions, mas é sobretudo com o Benfica, contra quem os dragões têm sido regularmente capazes de alcançar, com naturalidade, uma superioridade vincada em campo - e as águias o oposto. Os sinais prévios ao jogo já o indicavam: não, não falamos da novela que Jorge Jesus vai alimentando com o Flamengo, mas sim nas opções para os onzes, nas quais o FC Porto se manteve igual a si próprio e o Benfica alterou, para, com Taarabt, tentar dar maior solidez ao setor intermédio, com e sem bola. Só que qualquer estratégia cai em saco roto quando, com meio minuto, surge um golo e, aos sete, surge outro.
É verdade que tudo saiu bem aos portistas, mas limitar a análise a uma questão de eficácia é extremamente redutor. Tem a ver com crença, tem a ver com fibra, tem a ver com coragem e desfaçatez. Tudo teve o FC Porto, nada teve o Benfica. Quando se quer muito, é muito mais fácil conseguir. Os dragões quiseram, como é exemplo a insistência no primeiro golo, o Benfica hesitou se queria e tremeu, como se viu no segundo golo (péssima abordagem de Helton Leite, embora magnífica execução de Vitinha).
Só já depois do 3x0 o Benfica percebeu que tinha de ser por fora a criação de perigo, visto que por dentro havia Mbemba ou Uribe, insaciáveis na recuperação de bola.
Era já um jogo demasiado desequilibrado. Com bola, mas sem crença e sem cabeça (exceção a João Mário), o Benfica chegou a estar bem perto de sofrer o quarto - sim, ainda na primeira parte! - numa demonstração de que os portistas também são exímios a aproveitar o espaço. Estava na mão do FC Porto a possibilidade de uma noite absolutamente histórica.
Quando Evanilson, a acabar a primeira parte, viu segundo amarelo e consequente vermelho, nasceu uma luz ténue para o Benfica, que foi para o intervalo repensar estratégia e tentar criar condições para voltar a jogo. Regressou com duas alterações e com passagem para 4x3x3.
Viram-se oportunidades, de um lado e do outro. O Benfica viu em Everton o ponto de referência (efetivamente, é quem melhor cruza) para que este colocasse bolas em Yaremchuk e Seferovic (Darwin saiu lesionado). O FC Porto teve em Taremi e Luis Díaz as lanternas para que o jogo se fizesse mais distante da baliza de Marchesín. E, por falar no argentino, que segurança entre os postes! E, por falar em postes, incrível como Taremi viu o ferro tirar-lhe o fim da seca.
Foi andando o relógio e, se até aos 70 minutos se viram lances de bom futebol, a partir daí pouco se jogou, fruto da inteligência portista, a testar os nervos de um Benfica cada vez mais perdido... e que acabou por perder o jogo de forma inquestionável, para além de Otamendi, expulso nos descontos.
Incrível a atitude portista, injetada por uma bancada em polvorosa e que nunca deixou esmorecer, mesmo na expulsão. Claro que os golos ajudaram bastante, mas ver comportamentos como os de Uribe ou Mbemba é, para os adeptos, uma garantia de que estão, em campo, bem representados. Depois, há muita magia em Díaz e Vitinha.
A perder 2x0 tão cedo, fica difícil perceber como é que o Benfica passou meia hora a despejar bolas sem nexo para a frente, para dois avançados (Rafa e Darwin) totalmente engolidos pela defesa portista. O plano B demorou em demasia e, quando chegou, o desnível emocional já era gritante.