O último bilhete para a Final Four da Taça da Liga fica no Bessa, onde o Boavista goleou o SC Braga por 5x1. Os axadrezadas viveram uma noite perfeita e, por isso, juntam-se a Santa Clara, Sporting e Benfica no final da janeiro para tentar o primeiro troféu da temporada.
Terá havido, entre os 2969 adeptos presente no estádio do Bessa - e muitos outros em frente à televisão -, quem olhasse para o relvado em jeito de reminiscência. Seria este o Boavistão? A pantera que nos primórdios do século conquistou o país e fez furor na Europa? No banco, por certo, estava quem desse tempo sabe contar como foi: Petit. O homem-forte deste «novo» Boavista regressou a «casa» para a arrumar e, porque não, abrir-lhe novamente a porta do sucesso. Para já, os axadrezados vão a Leiria para o encontro de finalistas da Allianz Cup.
Ninguém precisava de calculadora. As contas eram simples. Um ponto agradava aos portuenses, os minhotos tinham de vencer para marcarem encontro com o Benfica na Final Four. Talvez por isso - e pelo próprio ADN - foi o Braga quem pegou logo na «batuta», enquanto o Boavista começou em tom expectante. À passagem da primeira dezena de minutos, Yan Couto resolveu aventurar-se a solo e viu Bracali dizer-lhe que «não». Foi o primeiro sinal de perigo dos arsenalistas e, ao mesmo tempo, o último durante uma eternidade.
À medida que o relógio avançava sobre o nulo, a equipa de Petit ia ficando mais segura de si mesmo - e da bola. Makouta e Seba Pérez começaram a «encurtar» o espaço para os criativos adversários e, timidamente, os da frente avançaram metros. Yusupha foi uma enxaqueca das chatas para a última linha do Braga e Gustavo Sauer o talento de sempre. A isto juntou-se o desastre dos erros individuais na equipa de Carlos Carvalhal. E quando deram por ela já o Boavistão vencia por 3x0.
Primeiro foi Al Musrati a entregar uma bola em «chamas» a Raúl Silva que, sem surpresa, falhou a receção. Agradeceu Sauer, que em corrida vertiginosa para o um contra um com Tiago Sá teve a frieza dos génios para picar a bola sobre o guarda-redes do Braga. 1x0, minuto 20. Estava em marcha a memória dos bons velhos tempos do Bessa, porque pouco depois de dobrada a meia-hora chegou a confirmação da derrocada arsenalista: entre os 32 e os 34 minutos, o Boavista arrumou a questão e «picou» o bilhete para Leiria.
Já sem Vitinha em campo - saiu aos 20 minutos devido a lesão -, o Braga «mutilou» a esperança de uma reviravolta. André Horta, por regra dono de uma assertividade notável no passe, fez asneira à porta da grande área e deu a Yusupha a bola para o remate que deu o 3x0; 120 segundos antes, Makouta tinha arrancado com a certeza dos confiantes e com um passe rasgado lançou Musa que, depois de contornar Tiago Sá, encostou a bola para as redes desertas.
Como se não tivesse havido descanso no Bessa, a segunda parte começou com a fita da primeira. Espaço a mais na defesa do Braga e talento à solta no último terço do ataque boavisteiro. Sauer - que belo jogo - viu Nathan Santos a avançar na direita, meteu-lhe a bola e o resto foi pura felicidade axadrezada: um «míssil» sem defesa possível para Tiago Sá. De três subia para quatro a vantagem do Boavista e de pouca descia para nenhuma a esperança arsenalista.
E esse estado de consciência manteve-se mesmo depois do 4x1, também ele um filme digno de guião. Isto porque Bracali defendeu o primeiro remate da grande penalidade (Ricardo Horta), bem à medida do conto de fadas que se vivia no coração da pantera. No entanto, Manuel Oliveira viu motivo para repetição e deu aos minhotos o Take 2 que Iuri Medeiros converteu. Por esta altura - desde o início da segunda parte, na verdade -, já Carvalhal tinha lançado Lucas Mineiro e Mario González em busca do milagre.
Mas a noite era da pantera, que desfez em pedaços um Braga afundado em crimes de responsabilidade própria. O 5x1 foi uma lição de futebol de contra-ataque, com Musa a passar por Diogo Leite como faca quente em manteiga mole e depois a deixou para Sauer a cereja no topo do bolo. O resultado passou a ser histórico e a noite para mais tarda recordar no álbum boavisteiro. Os «olés» chegaram como consequência do filme e da bancada um grito significativo: «Allez, Petit, allez!». O campeão do Boavistão reacendeu a chama.
Pode não ser sinónimo de nota artística, mas Petit incorpora algo que no Bessa encaixa que nem uma luva. Desde que regressou a «casa», o técnico dotou o Boavista de nova alma e, é preciso dizê-lo, de maior qualidade. Com ele, estes jogadores puxam do melhor de si e a noite desta quinta-feira foi o exemplo perfeito.
É certo que se perde como equipa, mas há noites em que os erros individuais aniquilam o todo. O primeiro e o terceiro golo do Boavista nascem de «crimes» de Al Musrati, Raúl Silva e André Horta; a partir daí havia pouco a fazer perante tamanho desnível no marcador.
Manuel Oliveira teve quase tudo controlado numa noite em que os casos rarearam. A grande penalidade de Nathan Santos sobre Ricardo Horta não se discute, ao contrário da ordem de repetição da mesma. Depois, Francisco Moura «safou-se» da expulsão após lance com Makouta, algo que mancha a nota do árbitro da partida.