Parecia má educação da águia. A entrar em casa estranha (até porque, em Famalicão, não há propriamente um mar vermelho na bancada, mas sim azul), o Benfica foi rápido a chegar ao 0x2 e, depois do susto, foi ao balneário e regressou com mais dois golos. Darwin foi a grande figura de um jogo em que a eficácia foi alta para os encarnados e onde as debilidades do Famalicão voltaram a ser bem visíveis.
Não tinha sido a vitória sobre o Dinamo Kiev suficiente para apagar totalmente o estado depressivo que se abatera na nação benfiquista depois da dura derrota no dérbi. Por isso, foi vital o golo madrugador de Darwin, num bom pontapé de fora da área que serenou a equipa e que a fez abordar o bloco compacto do Famalicão sem tanta necessidade de acelerar a busca de espaços. Melhor ainda, para as águias, quando o uruguaio bisou, ainda no primeiro quarto de hora, numa grande desmarcação de Rafa.
A equipa de Ivo Vieira, sem vitórias no seu estádio, não teve a defesa demasiado baixa, mas sim próxima da linha de meio-campo, o que poderia ser uma estratégia bem pensada caso soubesse alinhar-se atrás para colocar em fora de jogo os rápidos avançados do Benfica. Só que sofrer dois golos tão cedo, com uma lesão (Heriberto) pelo meio, é cenário propício a descalabro. Não foi isso que aconteceu.
Os famalicenses começaram a envolver os médios nas jogadas de ataque (ora Pickel, ora Pepê) e com isso foram capazes de crescer no jogo. Tentaram por Banza, conseguiram por Bruno Rodrigues e, aos 25 minutos, a superioridade mental começava a mudar, até porque da bancada vinha uma força confortável para os da casa - em Famalicão, há superioridade na plateia, seja contra que adversário for.
Otamendi e Vertonghen foram disfarçando várias deficiências dos encarnados, que, ao serem permeáveis no meio-campo sem bola (impossível Weigl e João Mário aguentarem jogo atrás de jogo...), deixavam mais desprotegida a defesa. Pela direita, iam surgindo os melhores lances, com Ivo Rodrigues a ser parte ativa, e na esquerda aparecia o perigo, com Bruno Rodrigues a tentar o empate - valeu Vlachodimos.
Ofensivamente, ia havendo muito Darwin, mas nem sempre bem. O uruguaio aproveitava bem o espaço que tinha, mas exagerava nas fintas e várias vezes defraudou o que começara por prometer. Também houve um remate perigoso de Weigl, o único que o Benfica fez para lá dos golos. Ou seja, a eficácia ditava a curta vantagem.
Com eficácia estava, com eficácia continuou. Aos tais problemas a meio-campo, Jorge Jesus respondeu com a entrada de Taarabt para a saída de Seferovic, dando o ataque a Darwin e Rafa. Correu lindamente...
Logo a abrir, Taarabt deu para uma diagonal de Rafa, que teve um pormenor soberbo antes de marcar. E, logo depois, o mesmo Rafa furou na área e deu para Darwin, que completou o hattrick. Dois momentos de contra-ataque, aproveitando o posicionamento subido do Famalicão, e que resolveu de vez com um assunto que pareceu ter ficado complicado.
Nunca se viu um Famalicão de braços em baixo. Também nunca se viu um Benfica a abdicar do que mais gosta: contra-atacar. Mas viu-se o índice de eficácia baixar, à medida que o relógio ia andando. Pudera, tal a distância no marcador, que resultava em descrença de um lado e excesso de confiança do outro.
Jorge Jesus esgotou aos 70 minutos as alterações, dando mais tempo a Paulo Bernardo e juntando Pizzi a Darwin - o português não tem tanta velocidade, mas nem por isso a equipa perdeu, com o seu critério. Ivo também mexeu, acima de tudo para refrescar.
E o jogo arrastou-se, já sem muita vida e com pouca chama. Ainda houve uma bola na trave de Vlachodimos, por Pedro Marques (tem condições para bem mais na segunda metade da época, assim as lesões o permitam), mas pouco mais a assinalar. A vitória foi natural para o Benfica.
Numa parte e na outra, o Benfica entrou muito forte. Tal como na época passada, também nesta a equipa de Jorge Jesus foi muito capaz em terras famalicenses e voltou a sair com uma goleada favorável.
O Famalicão tem uma postura positiva, de procura de golo e de constante tentativa de ter bola. Mas tem uma defesa permeável. Não é de agora, até porque sofrera sete golos nos dois jogos anteriores. Mas, mesmo com Ivo Vieira a mudar algumas peças, nem por isso se viram melhorias.