Iam os descontos a meio quando o Famalicão, ressurgido na segunda parte depois de uma em que ficou com a discussão de pontos muito complicada, conseguiu o empate. Não valeu, por fora de jogo, já depois de muitos festejos, mas serviu de alerta para um FC Porto que começou por tornar tudo fácil, mas que depois adormeceu, fiado nessas supostas facilidades. A equipa de Ivo Vieira, ainda com muita juventude, teve o ponto positivo de crescer no jogo, mas voltou a não pontuar.
Na antevisão, tínhamos, qual premonição, questionado Sérgio Conceição se contava com um Famalicão a reforçar o setor defensivo com mais um central para fazer face à dupla de avançados azul e branca. O técnico negou, quer por achar que Pepê, à semelhança da época passada, já costumava recuar para isso, quer por considerar que Ivo Vieira não costumava ser treinador de mudar a identidade em função do adversário. Só que, surpresa ou não, isso aconteceu mesmo: Penetra juntou-se a Riccieli e a Dylan no trio defensivo, com Pepê Rodrigues e David Tavares à sua frente.
Numa das descoordenações, Pepê Rodrigues meteu a bola nos pés de Taremi, que teve espaço para esperar a desmarcação de Toni Martínez para lhe meter a bola em posição de finalizar. O segundo golo também não foi muito diferente, com Bruno Costa e Otávio a trabalharem para nova desmarcação do espanhol. Em ambos os festejos, pediu desculpa aos adeptos da casa, que tantas vezes o aplaudiram no passado e que o fizeram mais uma vez.
Que se ressalve que não foi uma primeira parte avassaladora do FC Porto em termos de criação de oportunidades. Na 1ª jornada, criou mais, mas foi menos eficaz. Aqui, houve muita capacidade do novo homem-golo para simplificar o jogo e traduzi-lo em benefício. E, do outro lado, houve troco depois de meia hora de apatia e muita precipitação: Riccieli numa bola parada, Ivan Jaime numa grande correria pela esquerda, ambos a falharem o alvo, mas a sugerirem que a equipa era capaz de mais.
O golo de Riccieli, num bom cruzamento de Diogo Figueiras, teve o condão de trazer da bancada um ânimo extra. A equipa galvanizou-se e o FC Porto não conseguiu, com a margem mínima, uma afirmação com bola que pudesse deixar Sérgio Conceição tranquilo.
Toni Martínez ia evidenciando desgaste, Wilson Manafá estava intranquilo. Ambos saíram e a equipa, perdendo poder de choque na frente, passou a ganhar capacidade para ter bola, com Francisco Conceição. O jogo estava perigoso, sem dúvida, mas a bola ia deixando de aparecer tantas vezes na zona defensiva dos portistas.
Só que, já a meio dos 7 minutos de compensação, surgiu uma desmarcação de Bruno Rodrigues que, mesmo já em dificuldades, ainda teve forças para marcar e levar à loucura os adeptos. Sérgio Conceição estava irado com um disparate de Zaidu no início da jogada e só minutos depois pôde respirar de alívio: o árbitro assinalou fora de jogo e, com isso, o FC Porto manteve a vantagem e os três pontos. Ficou o alerta, pelo menos.
Bancos com diferentes níveis: claro que, se o jogo tivesse ficado empatado, escrever isto não faria sentido. Porém, na altura em que o Famalicão cresceu com o golo, Sérgio Conceição recorreu ao banco para dar sangue novo à equipa, o que foi conseguido. Ivo também tentou, mas as armas não eram do mesmo nível.
Teve um lance logo a abrir, mas o enquadramento para a baliza não era o melhor. Mesmo considerando isso uma oportunidade falhada, a percentagem de aproveitamento ficou bastante alta, com duas desmarcações em que não tremeu nem vacilou, fazendo a diferença no jogo.
Percebeu-se que quisesse bloquear o FC Porto, mas não o conseguiu e acabou por mostrar a melhor versão quando voltou ao seu estilo. Ivo Vieira não costuma abdicar da sua identidade, foi isso que pareceu acontecer neste jogo, e ficou visível que é melhor quando não o faz. Fica a lição.