Uma autêntica guerra conquistada para lá do tempo. O Sporting de Braga está apurado para os quartos de final da Taça de Portugal, depois de vencer o Vitória FC, no Bonfim, por 0x1. Sem golos nos noventa minutos, a partida acabou por ser decidida com um golo solitário de Pablo, num jogo de emoções e no qual os sadinos venceram muitas batalhas, acabando por perder a guerra.
Futebol. Um desporto onde jogam 11 contra 11 e ganha quem marca mais golos, não é? Parece simples, mas e se lhe dissermos que o futebol é muito mais do que isso? Que o futebol pode e deve ser muito mais do isso?
Não, não falamos de polémicas, de erros de arbitragem ou de títulos. Falamos da capacidade de união que o futebol pode e deve ter mais vezes. Não somos contra rivalidades, pelo contrário. Apreciamos cânticos motivadores, coreografias que metem respeito e, por vezes, uns insultos com algumas asneiras, porque não? Mas apreciamos ainda mais momentos como aquele que se passou ao minuto 21, no Estádio do Bonfim.
Como já deve saber, Nuno Pinto, jogador do Vitória FC, foi diagnosticado com um linfoma e viu-se obrigado a suspender a carreira. A onda de apoio ao esquerdino tem sido impressionante, mas o minuto 21, com todos os adeptos, de Vitória FC e Sporting de Braga, a aplaudirem Nuno Pinto, é daqueles que merece destaque e que, mesmo não aparecendo nos museus, merece ser lembrado pela forma como o futebol se transcende a si próprio.
E, de facto, o minuto 21, fez mesmo transcender uma equipa que deixou de lado as suas fragilidades e que, depois de uma fase em que o Sporting de Braga foi superior, com Horta e Fransérgio a darem nas vistas e a mostrarem alguns dos pontos fortes deste candidato ao título, conseguiu ser superior à equipa de Abel e fazer das tripas coração.
No Bonfim não houve muitos momentos de brilhantismo (Paulinho tentou ser exceção com um pontapé de bicicleta que quase deu golo), mas a intensidade, a vontade e o coração estiveram nos limites. Sentia-se, nas bancadas, um clima de crença que segurou os sadinos nos momentos mais difíceis e, mesmo quando era difícil acreditar - que falhanço foi aquele, Cádiz! -, os ares do Sado equilibraram a balança deste jogo de Guerreiros.
Ao intervalo, os arsenalistas pisaram o relvado cinco minutos antes dos sadinos. Lito Vidigal terá ficado a levantar ainda mais a moral das suas tropas, porque do outro lado estava um Sporting de Braga com capacidade de decidir a partida numa nesga de espaço.
Na zona defensiva, os defesas sadinos ganhavam as batalhas, no ataque os avançados foram dando o corpo às balas e procuraram sempre a baliza de Marafona. O domínio era sadino, mas este Sporting de Braga também sabe ser pragmático e nesses momentos voltou a ser a crença a manter o Vitória FC na eliminatória. Wilson teve uma perdida tão ou mais incrível do que a de Cádiz, mas foi ao minuto 86 que surgiu a oportunidade de ouro para evitar o prolongamento.
Penálti sobre Palhinha e Dyego Sousa contra Cristiano. Pelo menos é assim que é suposto, mas não. Não esta noite. O melhor marcador do campeonato acertou na barra da baliza sadina e logo a seguir Raúl Silva foi expulso. De um momento para o outro, a formação de Lito Vidigal ganhava superioridade na partida e partia para o prolongamento, novamente, com o espírito renovado. Havia mais meia hora de guerra no Bonfim e ninguém pensava em fazer tréguas!
Se ao intervalo do tempo regulamentar tinham sido os sadinos a chegarem atrasados, antes de começar o prolongamento foi o Sporting de Braga a imitar a estratégia da equipa da casa. Abel reuniu os seus guerreiros e depois de muitas batalhas perdidas pediu-lhes para ganharem a guerra. E assim foi.
Aquilo que tinha parecido difícil durante 90 minutos demorou apenas sete minutos a acontecer. Pablo, de cabeça, ultrapassou a defesa sadina, que até então tinha construído um muralha que parecia intransponível, só que não foi.
Em desvantagem, os sadinos nunca viraram a cara à luta e já sem energia para criar jogadas de envolvimento puxaram novamente da crença para chegar ao empate. As oportunidades até apareceram, mas a pontinha de sorte acabou aos 90 minutos. Os sadinos lutaram muito, mas acabaram mesmo por perder a guerra e estão fora da Taça de Portugal.