Numa das partidas mais emocionantes dos últimos anos no futebol português, o Desportivo das Aves garantiu a passagem às meias finais da Taça de Portugal, depois de bater o Rio Ave por 4x5 nas grandes penalidades, após um 4-4 no final dos 90 minutos. Num jogo que teve de tudo, destaque para os dois golos marcados pelo Aves perto do minuto 90. Depois, foi a lotaria a decidir.
Foi um início de jogo com sinal mais para o Rio Ave. A equipa da casa, a jogar dentro da cadência ofensiva habitual, foi puxando o Aves para os últimos trinta metros e a criatividade dos homens do meio-campo vilacondense - Rúben Ribeiro, em noite de despedida, mostrou todo o seu arsenal técnico - foi criando problemas ao reduto defensivo adversário. Depois de um par de tentativas, Marcelo, na sequência de um canto, fez o primeiro. Havia justiça no placard.
Depois do golo, os homens de Miguel Cardoso baixaram os índices de pressão, e o Aves aproveitou para transformar a reação em oportunidades. Os avenses caíram em cima dos vilacondenses, que não tinham, por esta altura da partida, o mesmo domínio territorial. A equipa de Lito até chegou a marcar, mas o golo de Amilton foi anulado pelo auxiliar - o avançado parece estar em linha.
Depois do lance duvidoso, houve queixas no banco avense, com Lito Vidigal a receber ordem de expulsão. Os jogadores desentenderam-se em campo, o técnico avense recusou-se a sair e, na bancada, a claque dos homens de Santo Tirso era brindada com carga policial. Enfim, o jogo foi perdendo qualidade e o Rio Ave, sempre mais criativo, garantiu a vantagem ao intervalo.
Com um fim de primeira parte quezilento e com polémica minuto sim minuto não ainda no pensamento, o início da etapa complementar não poderia ter sido melhor. O Aves, a aproveitar um Rio Ave menos pressionante e intenso, caiu em cima do adversário, chegando à igualdade de bola parada. Defendi saltou mais alto e empatou a partida. Pouco depois, o Rio Ave voltava a marcar, novamente de bola parada, com os mesmos protagonistas: Guedes e Marcelo, com Tarantini a finalizar. Mas os avenses estavam transfigurados...para melhor.
Mesmo sem grandes oportunidades de golo, a verdade é que os comandados de Lito pressionaram os homens da casa, que, e poucas vezes tal aconteceu esta época, não mostraram grandes soluções para sair a jogar. Havia disponibilidade física, total comprometimento coletivo, mas as oportunidades não eram muitas: a última linha vilacondense era imperial - que grande jogo de Marcelo!
À passagem do minuto 70, um autêntico dilúvio invadiu o estádio dos Arcos. Os adeptos dispersaram das zonas descobertas do estádio, houve lugar até à ajuda dos jornalistas no processo, e... o Rio Ave sentenciou. Geraldes conduziu a transição, Novais finalizou-a. Era o delírio em Vila do Conde, sendo que a chuva até deu tréguas a partir daí.
Os homens da casa faziam a festa, que já parecia anunciada - Geraldes esteve perto do 4-1 -, mas do lado visitante a mesma atitude persistia. E o impensável aconteceu. Em dois lances praticamente consecutivos, Amilton, primeiro, Arango (entrou bem), depois, empataram a contenda, que só não acabou logo no tempo regulamentar a favor do Aves porque Rui Vieira parou as intenções dos avenses. Ufa, gritavam os homens de Vila do Conde.
Os homens da casa, apoiados por uma massa associativa inexcedível, voltaram a entrar com pouco ritmo e capacidade de pressão, e o Aves respondeu com ratice. Lionn deixou fugir Arango, que, numa jogada de grande requinte técnico, voltou a fazer o gosto ao pé. Era o intervalo.
O início de segunda parte de prolongamento trouxe um autêntico festival de erros da equipa de Miguel Cardoso, que nao conseguia parar as transições avenses. Arango, Amilton e Gauld estiveram perto do quinto, mas o golo surgiu na baliza avense. Dala, em estreia, colocou os Arcos em erupção. Surreal. Era tempo da lotaria dos penáltis.
Nos castigos máximos, Bruno Teles foi o último a marcar e o único a falhar. Era a loucura avense. Que reviravolta, que jogo!